domingo, 27 de abril de 2008

Quando a Noite Cai (com um grande estrondo...)

Um curioso exercício em como paulatinamente dar cabo de tudo o que de bom um filme pode ter. Basta olhar para o elenco, não é de deixar qualquer um a salivar de antecipação? Um objecto de prestígio, um âncora literária fortíssima (romance de Susan Minot, adaptado por Michael Cunningham...), um realizador estabelecido, enfim, estaria tudo lá. Estaria. Mas não está. Não está porque o filme é um prodígio visual, brilhante de academismo à Inglesa (e eu confesso-me devoto dessa qualidade BBC quase automática que, por vezes, tolhe o cinema inglês...) mas absolutamente vazio de conteúdo, de acção, de interesse. Um regalo para os olhos, à custa de nada se passar, de nada ser permitido para não estragar o embrulho que parece ser a única preocupação de toda a gente, em especial do realizador, Lajos Koltai, um dos mais reputados directores de fotografia actuais, famoso pelos seus trabalhos com Istvan Szabo e Giuseppe Tornatore, mas que aqui se esquece que um filme é mais do que enquadramentos e filtros. Este é um daqueles casos em que o espectador chega a ficar furioso com o que se está a passar no écran, porque rapidamente se entra naquela dimensão do "Oh deuses, se isto fosse feito por...", que é fatal para qualquer filme. E depois, bem, deixamos de querer saber. Glenn Close, Meryl Streep, Vanessa Redgrave e Toni Collette juntas? Who cares? O filme arrasta-se e acaba. Ponto final. O sentido de desperdício é enorme e o objectivo de tudo aquilo é perdido algures numa névoa de casas brancas, mares azuis e mansões imaculadas; num niilismo paralisante, como se Henry James tivesse sido pontapeado nas partes pudendas. E o aborrecimento. Muito. Tivesse vindo James Ivory para pegar na história e estas linhas teriam um outro sentido. Mesmo Ang Lee teria feito algo melhor, ele que faz tudo bem. Assim, o que nos resta é sonhar com o que poderia ter sido...

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