quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Noite é Nossa

Em primeiro lugar, o que me irritou neste filme: a total e absoluta falta de humor, a sisudez, a seriedade levada ao extremo, a ausência de ironia, qualquer coisa que afastasse aquela noção de Obra Séria, muito metida consigo própria. Um preço a pagar por ter Joaquin Phoenix e Mark Wahlberg juntos. Mas, enfim, uma outra marca de James Gray. Quanto ao resto, temos um bom filme, sólido na sua construção académica, na forma de contar uma história à boa velha maneira de uma Hollywood que deixou de existir aí por volta dos anos 70 do século XX. É um filme sobre a família, como todos os filmes de Gray, aliás, uma espécie de retorno do filho pródigo, de assunção do sangue como elemento do destino, inescapável e motor de tragédia. A personagem de Phoenix é sintomática deste tipo de convenção: se ele começa o filme como uma pessoa inteira, fora da linha de conduta da família, acaba como parte dessa conduta, mas uma pessoa amputada, que perdeu parte da sua personalidade. É nesse jogo que o filme ganha a sua distinção. Como já se percebeu, este é um mundo de homens, onde as mulheres não pertencem, o que condena Eva Mendes a não ser mais do que um mero papel decorativo, irrelevante no conjunto da história. Por um lado, quase que queremos que ela se torne na Sharon Stone do "Casino" do Scorcese, mas, bem, Ms. Mendes é uma mulher linda, mas quanto aos seus dotes de actriz, estamos conversados... Para não variar, tudo falha no final, quando Gray parece não ser capaz de sustentar o dispositivo do filme e deixa cair tudo numa banalidade rotineira, típica do mais moderno cinema de Hollywood. E é triste, porque o realizador quase que leva o seu barco a bom porto. De qualquer forma, é sempre um prazer assistir a bons actores a desempenharem o seu mester com gosto e empenho, sendo que Phoenix é um grande, grande actor, do qual vamos ver, de certeza, muitas coisas boas no futuro... Quanto a James Gray, esperemos para ver o mais recente "Two Lovers", com Phoenix (outra vez) e Gwyneth Paltrow, a estrear em Cannes.


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