domingo, 13 de julho de 2008

Summer Essentials (Hors-Série)

Intrigado pela sugestão do Crumblenaut (uma das poucas pessoas no mundo que teve acesso quase ilimitado à caverna de Ali Babá que é a Music Room do Senhor Marquês) e no seguimento de uma noite passada no Beach Club da Praia Atlântica, em Soltroia, a sofrer a actuação de uma daquelas bandas de bar que têm como norma criar um mínimo denominador comum musical e depois tocar tudo, absolutamente tudo, nesse espartilho sonoro easy-listening-tropical-bem-disposto-ora-venha-lá-a-cantoria-lá-lá-lá, regressei a este Caracol do francês Alexkid. Editado em 2006 pela influente F Communications, é o terceiro album de Monsieur Alexis Mauri, um DJ, programador e criador de excelente música electrónica que tem como maior particularidade o facto de nunca se afastar em demasia dos instrumentos acústicos que foram a base da sua formação musical. Assim, temos um Caracol multifacetado, tendo por base uma estrutura techno minimalista, com breves passagens pelo house mais sofísticado, com laivos de electro deixados aqui e ali, pontuando estruturas rítmicas quase hipnóticas, a fazer lembrar gente como Richie Hawtin, mas sem entrar no cerebralismo do mestre canadiano. Estamos aqui no território da música de dança, como é óbvio, mas quem disse que para dançar é preciso desligar o cérebro? Basta ouvir a faixa 02, Decibelly, para nos deixarmos enlevar pela estrutura quase arquitectónica da música e sermos transportados para um universo paralelo de verdadeiro chic amoral e epidérmico, larger than life. E, afinal, o que é o Verão se não isso mesmo? O que nos traz de volta ao Beach Club de Soltroia, rodeado das upper classes lusas em férias, vestidas de branco, a fingir que está tudo bem neste recanto à beira-mar plantado. Pais por um lado, hordas de teenagers clonados dos Morangos com Açucar por outro, e a falta que faz um disco como este Caracol para transformar tudo aquilo numa realidade mais visceral e interessante. Sim, os teenagers-clones bebidos, devidamente drogados e aborrecidos (mas não aborrecidos, se me faço entender...), mergulhados num negrume existencial profundo, abandonados aos piores e mais excitantes vícios num cenário maravilhoso de luxo decadente. Isso seria interessante. Quanto aos pais, bem, jogariam bridge, canasta ou mahjong e estariam ausentes, comme il faut. No parque de estacionamento, os Bentleys, Hummers, Porsches, Range Rovers e demais descapotáveis teriam outro brilho. But I digress... Assim, vou ouvir Decibelly até quase acreditar que este país pode ser interessante. Au revoir.

2 comentários:

tolilo disse...

o tolilinho veio ver se o tio haddock andava por aqui...


Chuaque para o tio Marquês (eu tb gosto de pó-pós)

Frioleiras disse...

E aqui venho eu marcar presença......