sexta-feira, 28 de março de 2008

Blood Diamond



Blood Diamond (2006)

Edward Zwick realiza, dezassete anos depois de Glory e passados três sobre O Último Samurai, este filme em que tenta materializar a fusão entre uma aventura épica clássica e uma wake-up call sociopolítica.

Zwick volta assim a focar as relações culturais e os conflitos raciais, trademark da sua filmografia para o grande ecrã. A denúncia faz-se audível, bem conseguida, e preenche o espectador com percepções da impotência, frustração, desânimo, e da extrema violência aos quais a África pós-colonial está, saibamo-lo, irremediavelmente entregue.

Decorrida em 1999, a acção centra-se na Serra Leoa, exemplo bem recortado da presente condição, e provável futuro a termo, do continente Africano. A brutalidade do conflito, bem como as variáveis que alimentam o motor desta e de outras guerras em África, são expostas com rigor quase documental pela lente de Eduardo Serra, que à semelhança do que fizera em Rapariga com Brinco de Pérola, recorre a tons naturais (aqui, quentes para as paisagens africanas, frios para as europeias) para conferir à película contrastes bem demarcados.

Danny Archer (Leonardo DiCaprio) é um contrabandista de diamantes sul-africano. Solomon Vandy (Djimon Hounsou) é um pescador Mende na Serra Leoa. Depois da aldeia de Solomon sofrer um ataque dos rebeldes, Solomon é feito escravo para trabalhar na extracção de diamantes. Antes dos militares do governo atacarem a mina, Solomon tem tempo de esconder um grande diamante que acabou de encontrar. É na prisão que o caminho de Solomon se cruza com o de Danny Archer, aliciado pela perspectiva de ter nas suas mãos um diamante que lhe permita sair de África. Vandy, cuja mulher e filhas foram enviadas para o exílio, e cujo filho vai engrossar as fileiras do exército de crianças formado pelas forças rebeldes, quer apenas recuperar a sua família.

A construção da personagem interpretada por DiCaprio é notável na medida em que o actor, maduro e sem quebrar a ascensão que retomou quando fez The Departed, consegue condensar ao longo de todo o filme os traumas, vícios e jogos de malabarismo (arrogância, consciência) que coabitam num "white african boy". Já Djimon Hounsou é igual a si mesmo: intenso, ardente, transcendendo com agilidade os limites cliché da personagem que encarna, e fornecendo a quem o vê um desempenho apaixonante que contunde, pelo menos enquanto o filme - com 143 minutos e que por isso paga inevitavelmente uma factura pesada a partir do meio do caminho - mantém o embalo inicial.

Como downsides algum simplismo no retrato das instituições ocidentais, avatarizadas na personagem de Jennifer Connelly, e o modo comedido, do tipo monday morning, em que James Newton Howard estaria ao compor a banda sonora.

Em suma, Zwick vai mais longe do que em Glory, sofisticado aqui pelo grau de barbárie conexo com a história, e o filme, at the very least, cumpre a difícil tarefa de, entretendo, denunciar o que cada vez menos se quer denunciado; que se queira ver, na natureza do argumento, imperfeições grosseiras, arestas por limar e com isto reduzir a obra ao produto da crítica, é género que vem por arrasto nos dias em que vivemos.

Apreciação pessoal: 8 em 10




1 comentário:

Anónimo disse...

Não conseguia dizer melhor, uma excelente critica ao filme. Realmente o realizador tinha muito material ao seu dispor se explorasse mais a personagem da Jennifer Connelly ao abordar o tema dos governos ocidentais à volta dos diamantes de sangue, mas isso dava outro filme.